Os nossos dias são passados a correr, sempre a tentar ajudar quem nos procura e nem sempre arranjamos a força para partilhar convosco um pouco do nosso dia a dia. Mas hoje gostávamos de falar do caso do Nikita. Um gatinho, um pouco desconfiado, que já nos tinha procurado no passado por episódios de inflamação do trato urinário e até obstrução urinária. Desta vez, infelizmente, o quadro tornou-se ainda mais grave, pois resultou numa laceração da uretra, situação que o colocava em risco de vida e tinha de ser rapidamente resolvida. É aqui que surge mais uma situação desafiante para nós. Seria recomendada uma uretrostomia, cirurgia delicada e com algum grau de complexidade que consiste em remover o pénis a criar uma nova abertura na uretra, como de fosse uma vagina das fêmeas. Apesar de não ser um procedimento que façamos por rotina, os seus donos, confiaram na nossa equipa para que a fizéssemos. A cirurgia felizmente correu bem e, apesar dos riscos ainda existentes, a cicatrização está a correr bem e esperamos que possa recuperar completamente. Ficamos gratos pela confiança.
O Nikita 29 maio 2025
Hoje foi mais um dia para ajudarmos os nossos queridos amigos de 4 patas. Aproveitando a oportunidade de ter na ilha o Dr Francisco Brandão, com o qual já trabalhamos há algum tempo e agradecendo aos colegas da Clínica Veterinária do Faial terem cedido a sua sala de cirurgia, pudemos mais uma vez evitar a viagem de uma das nossas mascotes a São Miguel para ser operada. Desta feita foi possível a resolução de uma grave rutura de ligamentos cruzados do joelho. Assim, pudemos manter a nossa sala de cirurgia disponível para a nossa sempre preenchida agenda, desta feita para ajudar uma velhotinha de 16 anos, doente cardíaca, que tinha a boca em muito mau estado, com doença periodontal severa, que já lhe tinha provocado o aparecimento de abessos de raízes dos dentes. Tivemos de remover uma grande parte deles e esperamos que se possa sentir bem melhor daqui em diante.
Velhotinha de 16 anos 14 março 2025
Hoje contamos-vos mais uma história de resiliência, sacrifico e superação. É a história da Pipocas, uma cadela 12 anos. Num passeio com os seus donos, teve um encontro inesperado com um cão de grande porte, que a atacou provocando-lhe lesões graves. As mordeduras resultaram numa laceração severa do flanco com hérnia traumática abdominal e exteriorização de parte do intestino. Rapidamente os donos dirigiram-se à nossa clínica, sendo também de louvar a pronta responsabilização do dono do cão por todos os cuidados que fossem necessários. A Pipocas foi de imediato submetida a uma intervenção cirúrgica para reparar a hérnia, mas cedo percebemos que este caso clínico poderia vir a ter sérias complicações. Tinha havido uma grande destruição dos músculos abdominais, gravemente dilacerados, com lesão de muitos vasos naquela área o que poderia levar à necrose (morte) daqueles tecidos e deiscência das suturas. Assim foi; passados alguns dias a pele e os músculos começaram a morrer e a Pipocas ficou com uma grande porção de tecido exposto, tendo mesmo recidivado a hérnia. Aliado a tudo isso a infecção resultante da mordedura atrasaria cicatrização. Adivinhava-se um processo moroso e ainda com desfecho incerto. Mas a Pipocas é uma senhora muito resiliente e continuou a lutar. Foi submetida a várias intervenções, a um processo de recuperação prolongado, mas felizmente melhorou completamente. Vai Pipocas…Olho vivo! 😊
A Pipocas 1 dezembro 2024
Enxerto de pele Hoje falamos-vos de outro caso interessante, em que felizmente fomos bem-sucedidos. Este gato de rua apresentava uma ampla ferida no seu antebraço há largos meses. Apesar dos cuidados iniciais para tentar promover a sua cicatrização terem sido tentados, os resultados acabaram por não ser satisfatórios; talvez a impossibilidade de compromisso e vigilância neste caso também estivesse a ser determinante para isso. Procuraram a nossa opinião e já parecia estar a ser ponderada a eutanásia. Falando com a ABRIGAR, associação que já tinha promovido a sua castração, chegámos à conclusão que poderíamos tentar ajudar. Numa primeira fase tentámos promover uma cicatrização por segunda intenção, com aplicações de pensos que fossem promovendo a cicatrização e fechar o defeito. Percebemos, contudo, a certo momento, que seria difícil fechar o defeito, pois o tecido de granulação (da cicatrização) estava a sobrepor-se à pele sã. Tentámos então aplicar um enxerto de pele do próprio animal para cobrir a área. Apesar do tecido de granulação ser já bastante antigo, o que pode determinar o insucesso da técnica, tínhamos esperança, que ao promover algum desbridamento local, conseguíssemos a vascularização necessária para tornar viável o enxerto. Retirámos então uma porção de pele do flanco e aplicámos sobre o defeito. Inicialmente o processo parecia evoluir bem, mas um pouco mais tarde, percebemos que a epiderme estaria a necrosar (morrer) e tememos que o nosso esforço tivesse sido em vão. Felizmente, algo que também está descrito aconteceu e nas camadas profundas foram-se desenvolvendo os tecidos que tornaram viáveis a cicatrização completa do defeito. O rapazinho está quase curado e pronto para viver livre novamente. Agradecemos à ABRIGAR pela confiança e damos os parabéns à Sra. Helena Krug pelo seu empenho durante este moroso processo.
Enxerto de pele 20 outubro 2024
Hoje apresentamos mais 2 casos interessantes que nos deixam muito felizes. São daquelas situações que, numa gíria da veterinária, costumamos dizer que, quando aparecem, acabam por ser sempre aos pares (aqueles casos pouco frequentes que, de repente, se multiplicam). Curiosamente, estes 2 casos foram-nos referenciados pela Dra. Cátia Pereira da Ilha de São Jorge, no final do passado mês de setembro. Um gato e uma gata com possível história de traumatismo (possível atropelamento), com dificuldades respiratórias e auscultação pulmonar e cardíaca abafadas. No raio-x foi possível confirmar a suspeita de hérnia diafragmática. Esta situação, que também pode ser congénita, ocorre na maior parte das vezes resultante de traumas que resultam no rompimento do diafragma (músculo que separa as cavidades toráxica e abdominal), permitindo que as vísceras abdominais possam ocupar espaço no tórax e assim diminuir de forma mais ou menos séria a capacidade respiratória do animal, dependendo do volume que é ocupado. Ambos os animais foram submetidos a uma intervenção cirúrgica delicada, não isenta de riscos e que obriga a ventilação assistida. Felizmente ambos recuperaram muito bem e voltaram a casa. Nas fotos é possível observar à esquerda as imagens com hérnia diafragmática, em que nem é possível identificar a silhueta cardíaca e à direita no pós cirúrgico, já em processo de recuperação ainda com ligeiro grau de pneumotórax e efusão que se resolveram. Obrigado à Dra. Cátia e aos donos destes meninos pela confiança.
Hérnia diafragmática 13 outubro 2014
Este foi mais um fim de semana atarefado. Sábado à tarde chegou a Luna com suspeita de algum traumatismo. Estava com respiração ofegante e dor abdominal. Verificámos que tinha as mucosas pálidas, claramente em choque e ligeira dilatação abdominal. Na ecografia detectámos que tinha líquido livre que se confirmou ser sangue; estava com uma hemorragia interna. Um olhar mais atento permitiu suspeitar de rutura do baço e fomos para cirurgia de urgência. Já tinha perdido uma quantidade de sangue considerável e optámos por colher o sangue que perdeu a nível abdominal para fazer uma autotransfusão. Felizmente correu tudo bem e já foi para casa acabar a sua recuperação. Uma valente! De manhã, o Quick tinha chegado com história de vómitos incoercíveis há 24 horas. Logo no raio-X se confirmou a suspeita de ingestão de um corpo estranho que estaria alojado no estômago e foi para cirurgia. Identificámos ser uma porção de tapete (que ao que parece gosta de roer) e que já lhe estava a obstruir o piloro. Felizmente correu tudo bem e já está a recuperar. Numa terra pequena como a nossa, mesmo assim, vão, por vezes se desdobrando alguns casos mais interessantes. Ainda estes dias que passaram, auxiliámos alguns colegas que nos pediram ajuda, por terem pessoal de férias, para tirar umas pedras da bexiga de uma cadelinha e outros a fazer uma amputação de urgência devido a uma fratura exposta. Um pouco antes tínhamos operado o Zeus. Tinha grande desconforto abdominal; sabíamos que era criptorquideo bilateral (ambos os testículos não tinham descido para a bolsa escrotal, ficando alojados no abdómen) e seus donos nunca tinham pensado castrá-lo; agora passados 10 anos, os testículos estavam muito aumentados, ocupando uma boa porção do abdómen. Foi operado, verificámos que um deles tinha os seus vasos com uma torção daí que tivesse aumentado imenso de tamanho. Felizmente correu tudo bem e já está em casa fresco e fofo. Esta é uma situação que uma vez identificada, deve ser corrigida para evitar o aparecimento de complicações como estas, ou mesmo tumores. Agradecemos sempre a vossa confiança. Que bom ter uma equipa capaz que nos permite ajudar desta forma. Muito orgulho!
A Luna, o Quick e o Zeus 8 abril 2024
Na medicina sabemos que infelizmente nem tudo podem ser boas notícias. Haverá sempre um momento, mais tarde ou mais cedo em que a natureza mostrará que é quem manda e tudo terá um fim. Contudo, felizmente, existem muitos momentos em que graças aos avanços da medicina, podemos fintar esse destino, nem que seja por algum tempo e podemos partilhar mais momentos, bons momentos, com os nossos companheiros. Essa é por exemplo a história da Kika, uma verdadeira lutadora, que junto com os seus donos tem encarado vários desafios. Há cerca de um ano, teve um episódio agudo de paresia dos membros posteriores e que estava rapidamente a agravar-se. Felizmente conseguimos encaminhar o caso rapidamente para o Dr. Francisco Brandão (MoveOnVet) , que já nos ajuda há vários anos, que rapidamente a operou à coluna, resolvendo uma lesão medular, a tempo de evitar que pudesse ficar paraplégica, tendo recuperado completamente. No final do ano passado, nova má notícia. A Kika estava a ficar gravemente doente. Foi-lhe diagnosticado um linfoma, um tumor maligno com origem nos linfócitos, um tipo de glóbulo branco fundamental para o sistema imunitário e que pode afetar vários órgãos. Assim que confirmámos o diagnóstico, foi decidido iniciar o tratamento de quimioterapia. Neste caso agradecemos ao Dr. Joaquim Henriques - Oncologia Veterinária, pelas dicas que nos foi dando. Foram longos 6 meses, com alguns momentos menos bons, mas que na sua maioria resultaram não só na sobrevivência da Kika com qualidade de vida, mas também em muitos dias felizes junto de quem mais a ama. Hoje foi o dia da sua última sessão de tratamento. Para já, o tumor está em remissão, mas apesar de sabermos que estes tumores são muito agressivos e deva ser certo que mais tarde ou mais cedo possa regressar, só podemos concluir que valeu a pena. A Kika está bem e feliz. Na foto nem ela parece acreditar que conseguiu passar com distinção, excecional bravura, paciência e fofura esta caminhada. Parabéns Kika!!
A Kika 6 junho 2025